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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Latrocínio

Desde a primeira vez que o meu olhar cruzou o seu, eu soube que deveria me afastar. Intuição. Eu sentia, previa e via que se eu permitisse você deixaria em mim uma marca que não era nada bem vinda. Vivemos assim, eu com a pulga atrás da orelha e você com esse olhar de falsa bondade em que todos acreditavam. Menos eu. Mesmo assim, me afastar era impossível, ou talvez exigisse de mim forças maiores do que eu possuía. Talvez fosse a cor dos seus olhos que me intrigava a ponto de ficar e brincar de Sherlok Holmes, a fim de descobrir se eles eram cinzas, verdes escuros, azuis ou todas as cores juntas.
Certo dia, aconteceu.

A frieza em seu semblante, aquele mesmo semblante da primeira vez, tomou conta de mim e a aura de estranheza, maldade e até podridão que emanava de você era quase palpável. 
Quando você movimentou seus braços e fechou as mãos em torno do meu pescoço, entendi que a hora chegara. A força em suas mãos foi aumentando gradativamente, enquanto respirar se tornava um tanto quanto complicado pra mim, e pra você também. E eu ainda me permiti desfrutar do seu toque pouco gentil pela ultima vez. Você me encarou sem mover um músculo da face, sem demonstrar emoção alguma, até que o brilho fraco em meus olhos se extinguiu completamente. Mas antes disso, cheguei a incrível conclusão de que na verdade sua íris era roxa. Um sorriso gelado varreu seu rosto, enquanto você arrancava meu coração, que já não pulsava, mas conservava o calor da vida, com o punhal banhado a ouro branco com o qual eu te presenteara. 

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6 comentários:

  1. QUE CONTO FODA! MIL VEZES FODA! Adoro uma visão macabra sobre romances, e a sua foi extremamente linda! Beijos ;*

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  2. Quando comecei a ler achei uma coisa, quando terminei estava completamente surpresa... Adorei mesmo, muito!

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  3. Uau. Totalmente inesperado, adorei seu conto, muito, muito bom!

    Beijo ;*

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  4. Sério, muito muito bom guria!
    Escreve, escreve muito. Adorei aqui.
    To seguindo :)

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  5. Às vezes aquilo que mais queremos é o que nos destrói. E o pior é que essa destruição é quase necessária... Quase como precisar morrer um pouco pra poder viver mais intensamente. Ou algo assim.
    E, nossa, como você escreve BEM! Adorei o texto, mesmo. Parabéns!
    Beijos (e obrigada pela visita, volte sempre!),
    Bru
    http://confesionesenpalabras.blogspot.com/

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