Através
daquela porta de vidro fechada, Manuela enxergava seu maior sonho. Ela estava a
uns dez metros da porta. O sonho, por sua vez, estava a uns quinze metros
depois da porta. Toda vez que Manuela parava para observar, via seu sonho tão
longe, mas tão longe, que a vontade que tinha era de desistir. Dia após dia,
ela olhava. Não podia fugir daquilo, a porta de vidro estava sempre lá.
Numa
manhã gelada de sol, em que acordou com um calor bom no coração e na alma, Manu
saiu do seu lugar comum. Olhou para sua companheira, a porta, e percebeu que
havia algo diferente nela. Percebeu então, que algo estava realmente estranho
naquele dia. Talvez fosse aquele calor no coração. Ou talvez fosse o sol. Não
se sabe o que a levou a isso, mas ela caminhou lentamente os dez metros até a
porta. Parou ali, e olhou para fora. Seu sonho parecia tão mais perto,
iluminado. Pousando a mão levemente na maçaneta, Manu ousou abrir a porta um
pouquinho.
Viu o céu
azul por entre a fresta, e ele parecia muito mais azul. Seu sonho ainda estava
longe, mas agora ela podia vê-lo nu e cru, sem aquela bendita porta de vidro,
que às vezes embaçava, molhava, e deixava turva a visão de seu maior objetivo.
Manuela
amava metáforas, e gostava mais ainda quando ela conseguia chegar a elas. E
naquele momento, concluiu: a fresta na porta de vidro era como a esperança. A fresta
fazia com que visse seus objetivos mais claramente, assim como a esperança. A esperança
fazia com que seus objetivos parecessem mais perto, assim como a fresta.
Ela não
sabia ainda, mas quando estivesse prestes a dar mais um passo rumo ao maior
sonho de sua vida, a porta não estaria escancarada. Era por aquela fresta que
deveria passar.